A Cabanagem - 177 anos

sábado, 7 de janeiro de 2012

Em 6 de janeiro de 1835 teve início uma das maiores revoltas populares do Brasil: a Cabanagem.
O que foi a Cabanagem - A Cabanagem foi uma revolta popular que aconteceu entre os anos de 1835 e 1840 na então província do Grão-Pará (atual estado do Pará). Recebeu este nome, pois grande parte dos revoltosos era formada por pessoas pobres - mestiços, escravos libertos e indígenas - , ribeirinhos que habitavamção em casas humildes, que chamavam de cabanas, de forma que seus habitantes eram chamados de cabanos.

Contexto histórico
No início do Período Regencial, a situação da população pobre do Grão-Pará era péssima. Mestiços e índios viviam na miséria total. Sem trabalho e sem condições adequadas de vida, os cabanos sofriam em suas pobres cabanas às margens dos rios. Esta situação provocou o sentimento de abandono com relação ao governo central e, ao mesmo tempo, a revolta.
Os comerciantes e fazendeiros da região também estavam descontentes, pois o presidente nomeado para a provincia pelo governo regencial desagradada a elite local.  



Causas e objetivos
Os cabanos (índios e mestiços, na maioria) e os integrantes da elite local (comerciantes e fazendeiros) tinham causas diferentes, mas se uniram contra o governo regencial com o objetivo principal de conquistar a independência da província do Grão-Pará. 
  • Os cabanos pretendiam obter melhores condições de vida (trabalho, moradia, comida).
  • Os fazendeiros e comerciantes, que lideraram a revolta, pretendiam obter maior participação nas decisões administrativas e políticas da província.
Revolta
O presidente da província, Bernardo Lobo de Sousa, desencadeou uma política repressora, na tentativa de conter os inconformados. O clímax foi atingido em 1834, quando Batista Campos publicou uma carta do bispo do Pará, Romualdo de Sousa Coelho, criticando alguns políticos da província.
Por conta dessa publicação nao autorizada pelo governo da Província, o cônego foi perseguido, tendo que refugiar-se na fazenda de seu amigo Clemente Malcher.
Batista Campos e Malcher reuniram-se, então, aos irmãos Vinagre (Manuel, Francisco Pedro e Antônio), ao seringueiro e jornalista Eduardo Angelim e a um contingente de rebeldes. A primeira reunião foi na fazenda de Malcher.
No ano de 1835, os cabanos ocuparam a cidade de Belém (capital da província) e colocaram na presidência da província Félix Malcher. Fazendeiro, Malcher fez acordos com o governo regencial, traindo o movimento cabano. Revoltados, os cabanos mataram Malcher e colocaram no lugar o lavrador Francisco Pedro Vinagre (sucedido por Eduardo Angelim).
Fim da revolta
Após cinco anos de sangrentos combates, o governo regencial conseguiu reprimir a revolta contando com o apoio de mercenários europeus.
Em 1840, muitos cabanos tinham sido presos ou mortos em combates.

A tragédia do “Brigue Palhaço”

A Cabanagem teve origem num movimento de contestação, ocorrido dez anos antes e que havia sido sufocado com muita violência, conhecido como "rebelião do navio Palhaço".

Quase uns trezentos homens sufocavam no porão do brigue "Palhaço" ancorado nas aforas do porto de Belém do Pará quando a gritaria começou. Berravam por água e por ar. Asfixiavam-se. Eram do 2º Regimento de Artilharia de Belém que se insurgira contra a junta governativa em agosto de 1823.

Quem os prendeu e os removeu para a masmorra flutuante foi o comandante Greenfell, um daqueles ingleses oficiais de marinha a soldo de D. Pedro I, que lá estava para assegurar a integração do Grão-Pará ao Brasil recém independente.

Assustados com a barulheira dos encarcerados, meio endoidecidos pelo calor e pela sede, a tripulação da improvisada galé os acalmou a tiros e à noite espargiu sobre eles, ainda empilhados lá embaixo, uma nuvem de cal. Na contagem matinal do dia seguinte, no dia 22, apenas 4 estavam vivos. Dias depois restou só um, João Tapuia. Morreram 252 milicianos e praças, sufocados e asfixiados. Um pavor acometeu o Pará. O interior ferveu.
ninguém assumiu a responsabilidade pela tragédia. Para milhares de tapuias e de caboclos paraenses, genericamente chamados de "cabanos", devido as choças que habitavam, a independência até então não dissera a que veio. Agregou-se a isso o fato dos poderosos locais, quase todos portugueses, donos do comércio grosso e de vastas terras, ainda reservavam para si o controle das instituições, e que, como ativista do partido dos "Caramurús", almejavam reatar com Lisboa na primeira oportunidade que houvesse.

Destaques: cônego e jornalista João Batista Gonçalves Campos, irmãos Vinagre, o fazendeiro Félix Clemente Malcher, Eduardo Angelim. 

O movimento cabano
Mais de 10 anos depois, em 6 de janeiro de 1835, liderados por Antônio Vinagre, os rebeldes (tapuios, cabanos, negros e índios) tomaram de assalto o quartel e o palácio do governo de Belém, nomeando Félix Antonio Clemente Malcher presidente do Grão-Pará.
Os cabanos, em menos de um dia, atacaram e conquistaram a cidade de Belém, assassinando o presidente Lobo de Souza e o Comandante das Armas, e apoderando-se de uma grande quantidade de material bélico.
No dia 7, Félix Antonio Malcher foi libertado e escolhido como presidente da província e Francisco Vinagre para Comandante das Armas. O governo cabano não durou muito tempo, pois Félix Malcher - tenente-coronel, latifundiário e dono de engenhos de açúcar - era mais identificado com os interesses do grupo dominante derrotado, e é deposto em 19 de fevereiro de 1835, com o apoio das classes dominantes, que pretendiam manter a província unida ao Império do Brasil.

Francisco Vinagre, Eduardo Angelim e os cabanos pretendiam se separar. O rompimento aconteceu quando Malcher mandou prender Angelim. As tropas dos dois lados entraram em conflito, saindo vitoriosas as de Francisco Vinagre. Clemente Malcher, assassinado, teve o seu cadáver arrastado pelas ruas de Belém.

Agora na presidência e no Comando das Armas da Província, Francisco Vinagre não se manteve fiel aos cabanos. Se não fosse a intervenção de seu irmão Antônio, teria entregue o governo ao poder imperial, na pessoa do marechal Manuel Jorge Rodrigues (julho de 1835).

Devido à sua fraqueza e ao reforço de uma esquadra comandada pelo almirante inglês Taylor, os cabanos foram derrotados e se retiraram para o interior. Reorganizando suas forças, os cabanos atacaram Belém, em 14 de agosto. Após nove dias de batalha, mesmo com a morte de Antônio Vinagre, os cabanos retomaram a capital.

Eduardo Angelim assumiu a presidência. Durante dez meses, a elite se viu atemorizada pelo controle cabano sobre a província do Grão-Pará. A falta de um projeto com medidas concretas para a consolidação do governo rebelde, provocou seu enfraquecimento.

Diante da vitória das forças de Angelim, o império reagiu e nomeou, em março de 1836, o brigadeiro Francisco José de Sousa Soares de Andréa como novo presidente do Grão-Pará, autorizando a guerra total contra os cabanos. Em fevereiro, quatro navios de guerra se aproximavam de Belém, prontos para atacar a cidade, tomada pela desordem, fome e varíola.

No dia 13 de maio de 1836, o brigadeiro d'Andrea estacionou sua esquadra em frente a Belém e bombardeou impiedosamente a cidade. Os cabanos insurgentes escapavam pelos igarapés em pequenas canoas, enquanto Eduardo Angelim e alguns líderes negociavam a fuga.

O brigadeiro d'Andrea, entretanto, julgando que Angelim, mesmo foragido, seria uma ameaça, determinou que seus homens fossem ao seu encalço. Em outubro de 1836, numa tapera da selva, ao lado de sua mulher, Angelim foi capturado, tornado prisioneiro na fortaleza da Barra, até seguir para o Rio de Janeiro.

A Cabanagem, porém, não acabou com a prisão de Eduardo Angelim. Os cabanos, internados na selva, lutaram até 1840, até serem completamente exterminados (nações indígenas foram chacinadas; os murá e os mauê praticamente desapareceram).

Calcula-se que de 30 a 40% de uma população estimada de 100 mil habitantes morreu. Em 1833 o Grão-Pará tinha 119.877 habitantes; 32.751 eram índios e 29.977, negros escravos. A maioria mestiça ("cruzamento" de índios, negros e brancos) chegava a 42 mil. A minoria totalizava 15 mil brancos, dos quais mais da metade eram portugueses.
Em homenagem ao movimento Cabano foi erguido um monumento, projetado pelo arquiteto Oscar Niemeyer, na entrada da cidade de Belém: o Memorial da Cabanagem.

Fonte: Redação ANN

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