Desabamentos demonstram que, agora, bisbilhotar o que o vizinho faz em sua moradia se transformou em um caso de vida ou de morte

sábado, 28 de janeiro de 2012

Por Ana Maria
Amanhã faz um ano que o Real Class desmoronou diante dos meus e de diversos outros olhos perplexos e apavorados. Foi terrivel. O evento deixou sequelas emocionais: até hoje, quando vou dormir, penso que o prédio está balançando. Quando chove, meu filho mais novo nao consegue ficar no apartamento e desce imediatamente. Lá embaixo, ele encontra várias vizinhas e vizinhos que também sentem o mesmo medo. Sinto tanta pena quando ele me liga dizendo "Mãe, tá chovendo forte, ventando, to com medo de ficar no apartamento". E eu nada posso fazer... 
Embora vários laudos tenham assegurado que o nosso prédio está super seguro, o emocional abalado de quem acreditou que iria morrer soterrado fala mais alto e não nos permite ficar tranquilos em nosso próprio lar.
O laudo dexou os belenenses estupefatos: falhas, omissões, erros crassos e primários, negligências, imprudências de todo tipo determinaram um fim que poderia ter sido evitado se houvesse uma coisa que acreditávamos existir em Belém: fiscalização efetiva das obras pelos orgaos competentes.
  
Um ano depois ...
Faltando quatro dias para um ano dessa tragédia em Belém, outro desmoronamento ainda mais terrivel. Na noite de quarta-feira, 25, cerca de 20h30, três prédios do centro do Rio Janeiro simplesmente desabaram.O maior, um prédio de 20 andares chamado Liberdade, que se localizava na rua Treze de Maio, foi o primeiro a cair. Em seguida, um menor, da rua Manoel de Carvalho, com 10 andares, chamado Colombo, e mais um imóvel pequeno, localizado entre os dois edifícios maiores, com quatro ou cinco andares, também desabaram.
Transeuntes que rodavam pelas ruas próximas relataram o acontecimento como “inacreditável”, e disseram que os prédios pareciam “castelos de areia desmoronando”.
A tragédia custou muitas vidas e, claro, está gerando pânico em todo o país. Qual será o próximo prédio? Podemos ficar tranquilos quando sabemos da uniao de duas negligências: pelo lado do Poder Público, nao existe fiscalização; pelo lado do particular, o que vemos é a pura imprudência quando se trata de economizar alguns trocados com as obras de engenharia.
No caso dos prédios do Rio, o laudo que explicará o evento ainda demorará alguns meses, mas o Brasil todo quer entender como três prédios, dois deles enormes, simplesmente desabam. O que causou a fatalidade? 
Segundo alguns especialistas ouvidos pela imprensa, a maior aposta da causa do desastre é um problema estrutural. A Defesa Civil da cidade divulgou que trabalha com a hipótese de uma obra que estava sendo feita no prédio mais alto, e que pode ter abalado a estrutura do edifício. Essa reforma ocorria no nono andar e tinha começado há dois meses. Algumas pessoas ouvidas pela imprensa disseram que o andar em reforma estava em escombros, sem pilares, nem vigas – parece que até sem paredes. No entanto, o Conselho Regional de Engenharia (Crea) do Rio de Janeiro afirmou que o último registro de reformas no prédio é de quase quatro anos atrás, ou seja, se estava havendo uma reforma no nono andar, esta era ilegal.

O problema é que, embora seja de conhecimento público que toda construção ou reconstrução em prédio necessita de ser acompanhada por um profissional, haja vista que qualquer erro ao lidar com as estruturas e pilares do prédio pode por o edifício em perigo, os particulares simplesmente negligenciam essa questão e o Poder Público nao tem condições de saber e controlar tudo o que ocorre no interior de cada edifício de uma megalópole. 

E agora, quem poderá nos proteger contra a falta do poder público e a irresponsabilidade dos particulares? Nós mesmos, é claro.
Esses eventos nos impoem compreender que, cada vez mais, nas cidades modernas, tudo o que o nosso vizinho faz ou deixa de fazer, nos atinge de uma forma ou de outra. A minha proposa é resgatar uma figura odiada do passado: a "fofoqueira" da rua, a bisbilhoteira, que sabia dar conta de tudo o que todos os vizinhos faziam ou possuiam dentro de suas casas. Agora, fazer ressurgir essas interessantes candinhas e dar ouvidos a elas a fim saber se o nosso vizinho nao está atentando contra a segurança coletiva, pode salvar as nossas vidas.

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